segunda-feira, maio 07, 2018

As Oportunidades Perdidas (dentro da estranheza humana)...


O tempo faz com que deixemos de falar a algumas pessoas, sem que encontremos uma explicação plausível para o facto. No meu caso pessoal noto que isso acontece sobretudo com pessoas com quem estudei. Há uma primeira vez, que começa quase sempre com um fingir que não se vê... E depois acaba-se o simples olá, o bom dia ou o boa tarde...

Pensei nisso quando o meu irmão me contou um episódio, que pensa ter-se passado  com o seu companheiro da primária mais "estrangeirado", filho de pai alemão e de mãe francesa, que foi agarrado na adolescência pelo "mundo psicadélico", do qual penso nunca mais  ter saído... 

Depois de o ter perdido de vista durante anos e anos (correu na nossa cidade o boato que tinha morrido novo...), descobriu um rosto que lhe pareceu familiar, numa das ruas de Lisboa. No regresso a casa, pensou na forte possibilidade de ser ele, pelo seu olhar e também pelo aspecto desleixado. 

Algum tempo depois cruzou-se nas Caldas com a mesma pessoa, mas ia de carro e não aproveitou a oportunidade para estacionar e para trocar algumas palavras e ficar a saber se era mesmo Ele... E agora já não é possível. Um amigo comum anunciou o seu desaparecimento via facebook.

Ouvia-o e lembrei-me de uma colega de escola, que trabalha numa farmácia, e que agora, graças ao moderno uso de senhas, não temos a oportunidade de fugir um do outro, pelo menos dentro da loja (das duas últimas vezes que por lá passei fui atendido por ela...). 

Como acontece em muitos casos, deixou-me de falar sem que tivesse existido qualquer zanga ou mal entendido, apenas por que sim. No início estranha-se, depois entranha-se. 

Mas não deixa de ser uma coisa quase literária, estarmos ali, frente a frente, falarmos informalmente, como se nunca tivéssemos trocado, no mínimo, palavras e sorrisos malandros no intervalo das aulas...

(Fotografia de Luís Eme)

9 comentários:

  1. Luís, nunca fiz isso nem tenciono fazer. Isto porque entendo que a salvação/cumprimento não se nega a ninguém. Até pode não haver assunto para tratar com aquela pessoa porque nem toda a gente serve para 'discutir' assuntos e trocar opiniões, etc., mas entendo dever cumprimentar-se.
    Já aconteceu deixarem de me falar. Depois disso, nas primeiras vezes que me cruzo com a pessoa, cumprimento na mesma e se vir que me volta a cara, suspendo. Já aconteceu passado um tempo arrepiarem caminho e pedirem desculpa, etc. Aceito, mas sei que se instalou distanciamento.

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    1. Há muito tempo que evito usar a palavra "nunca", Isabel.

      Normalmente não sou eu que deixo de falar às pessoas, mas percebo que é difícil falar com alguém que não se vê há vinte e mais anos, se não existir mesmo uma relação forte de amizade.

      (há amigos de infância que podemos estar quase quarenta anos sem falar e é sempre uma festa quando nos encontramos, mas estes são pessoas especiais... de vez enquanto acontece-me e é bom)

      Noto que as mulheres são mais "estranhas" nestes casos, principalmente se forem casadas. É mais fácil fingirem que não nos conhecem... coisas desta sociedade "masculina". Há mesmo quem me cumprimente se for sozinha e baixe a cabeça se for com o companheiro...

      Mas não é nada de preocupante, até dá para escrever uma posta, com a minha "amiga" da farmácia. :)

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    2. (Sim, também evito dizer nunca no que se refere a intenção, ao futuro.
      Aqui o meu "nunca" é passado: "nunca fiz isso".)

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  2. A mim já me aconteceu imensas vezes esse comportamento de me falarem como se nunca me tivessem conhecido. Já nem me importo...
    Uma boa semana, Luís.
    Um abraço.

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    1. Não vale a pena mesmo fazer disso um drama, Graça.

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  3. Bom eu sou muito despistada, e muitas vezes não reparo nas pessoas. Mas quando vejo, falo.
    Abraço e boa semana

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    1. Isso é outra coisa, Elvira. É não ver, não é fingir. :)

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  4. Pois, também me acontece o mesmo, e depois fico sempre sem reacção.
    A foto está excelente.
    bom fim de semana.
    beijinhos
    :)

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