segunda-feira, junho 30, 2014

A "Alegria Breve" de Virgílio Ferreira



Acabei de ler a "Alegria Breve" de Virgílio Ferreira.

É um livro muito bem escrito por um dos grandes escritores do século XX.

Desde as suas primeiras páginas que somos invadidos pelas inquietações da personagem principal, o Jaime, um homem que deixou tanta coisa da sua vida por resolver, até a dúvida da existência de um filho seu...

São tantas as marcas da interioridade, da solidão das aldeias quase vazias, onde a vida passa mais lentamente, aprofundando as feridas do corpo e da alma, onde a morte tem um peso diferente das grandes cidades...

Recomendo a sua leitura a todos os que gostam de livros singulares.

domingo, junho 29, 2014

A Boa Novidade de Assistir na Plateia à Minha Peça


Felizmente fui ao Salão da Incrível Almadense, assistir ao texto que escrevi, "O Amor é uma Invenção do Cinema", transformado em teatro pelo CIA (Cénico Incrível Almadense).

Gostei de tudo, das interpretações, dos cenários e até das sonoridades escolhidas.


Eu já tinha sentido uma sensação estranha quando assisti a um dos ensaios, como se tudo aquilo fosse novidade, e eu não fosse o autor. Acabei por sentir a mesma coisa, em várias partes, durante a peça.

Parabéns aos actores principais: Eduardo Pereira, Mara Martins, Marisa Vasconcelos e Nelson Sousa, aos figurantes, aos técnicos, e claro, à encenadora, Eugénia Conceição.

As fotos são da Gena Souza.

quinta-feira, junho 26, 2014

A Minha Estreia Teatral com: "O Amor é uma Invenção do Cinema"


O Cénico Incrível Almadense vai estrear no próximo sábado uma comédia romântica da minha autoria,  a que dei o título, "O Amor é uma Invenção do Cinema".

Quando a escrevi não estava a pensar que fosse representada, foi sobretudo um exercício literário de aproximação à escrita dramática, com mais fôlego que outros textos anteriores.

Como devem calcular estou bastante satisfeito e também curioso pelo que irá surgir no palco da Incrível (mesmo sem ter a certeza se poderei estar presente...).

Assisti a dois ensaios (ainda no início...) e ao ver os actores a representarem, cheguei a questionar-me se tinha sido eu que tinha escrito o texto. Provavelmente pela novidade e também por perceber que as minhas palavras também pertenciam agora aos dois homens e às duas mulheres que davam vida às personagens principais desta história de amores e desamores, tão comum nos nossos dias...

E agora o mais importante, a peça tem início às 17 horas, no Salão de Festas da Incrível Almadense. 

terça-feira, junho 24, 2014

A Flor e a Foice de Rentes de Carvalho


Acabei de ler "Portugal a Foice e a Foice", de J. Rentes de Carvalho.

Fiquei um pouco desiludido, por esperar mais desta obra "maldita", editada em português, trinta e oito anos depois da sua edição em holandês, nas comemorações do 40º aniversário da Revolução de Abril.

Mais de metade da obra é absorvida pela resenha histórica de Portugal, que o autor faz, provavelmente para identificar os holandeses com o nosso país.

Noto  nestes primeiros capítulos do livro alguma falta de rigor histórico, pouca profundidade e abundância de lugares comuns. Embora a nossa história seja realmente demasiado "bela e dourada", não era necessário um "bota abaixo" tão negro.

Em relação às cem páginas dedicadas à Revolução de Abril, Rentes de Carvalho faz um bom retrato dos acontecimentos (até porque em 1975 não havia tanta informação como existe nos nossos dias...). Penso que faz uma boa análise do papel de Spinola e também de Mário Soares, neste período quente, ambos sedentos de poder...

Considero o autor um escritor de referência, com conhecimento de causa, pois além de o acompanhar no seu blogue "Tempo Contado", também tenho lido uma boa parte da sua obra editada no nosso país, tarde demais.

Penso que é também por isso que Rentes de Carvalho demonstra um grande ressentimento, especialmente em relação aos seus pares. Deve ser complicado para um autor ser editado num país que não é o nosso e ser quase "banido" na nossa Terra. Isso explicará em parte o seu sarcasmo e o facto de estar de mal com mais de metade do mundo...

domingo, junho 22, 2014

Às Vezes...


Às vezes olho-me ao espelho e vejo o meu pai.

Não é que fossemos muito parecidos, mas fico com a sensação de que ele está ali, no meu olhar.

Claro que é uma coisa boa, como são todas as memórias que guardo do meu pai...

O óleo é de Clara Gangutia.

sexta-feira, junho 20, 2014

O Regresso aos Livros


O facto de estar retido em casa, faz com que leia mais, jornais, revistas, e claro, os livros.

Por exemplo, há muito que não lia a revista "Ler" com tanto interesse (não sei se é do novo formato, mas acho que não, é mesmo mais disponibilidade para a leitura...).

Acabei de ler "Um Ermita em Paris", de Italo Calvino. Embora seja um conjunto de textos dispersos, que foram organizados pela família e transformados em livro, fez-me reflectir em muitas coisas da Cultura, inclusive no "ofício de escrever" e nos lugares a que pertencemos (ou não)...

Descobri que a minha linha de pensamento está próxima da Calvino, o que demonstra que devo estar "ultrapassado" no tempo. Nada que me incomode, diga-se de passagem.

quarta-feira, junho 18, 2014

«Obrigado, Chico!»


Só posso dizer, «obrigado, Chico».

A tua música foi das melhores aproximações que tive com o Brasil.

terça-feira, junho 17, 2014

Esta Coisa Estranha que é a Vida


Devido a um problema físico estou retido em casa.

Isso faz com que não ligue diariamente o computador e esteja de alguma forma mais distante de todos os "mundos".

Do que sinto mais falta é das minha ruas, de poder andar por aí a dizer olá ao mundo...
Mas a vida é esta coisa estranha, que gosta de nos pregar partidas...

O óleo é de Frederic Kellogg.

quarta-feira, junho 11, 2014

Os Dias Longos


Há dias maiores que os outros, porque os minutos e as horas não passam por nós ao mesmo ritmo.

Cada vez mais me convenço que a história das horas terem sessenta minutos é uma "balela", como tantas outras que fazem parte do nosso dia a dia...

O óleo é de Ophelia Redpath.


terça-feira, junho 10, 2014

«Portugal é um bocado transexual.»


O Carlos disse-me que Portugal lhe parece ser mais mulher que homem, apesar do seu género masculino.

Eu disse-lhe que não. Se Portugal tivesse características femininas, estávamos muito melhor.

Foi então que ele se saiu com uma das dele, entre sorrisos: «Está bem, então Portugal é  pelo menos um bocado transexual.»

O óleo é de George Kotsonis.

segunda-feira, junho 09, 2014

Nomes Escolhidos a Dedo no Circo do Poder


As televisões e os jornais são reveladores de tanta coisa. Umas boas, outras más, outras mais ou menos pindéricas, outras assim assim, enfim,  uma autêntica "rua do bairro alto", com roupas de cetim, amarelas, vermelhas, rosas, laranjas, verde alface, etc, também com casas de chichi a céu aberto.

Há também os nomes quase artísticos, herdados e exibidos com orgulho, especialmente nos corredores politiqueiros. Exemplos? O fulano que pensa mesmo que é "brilhante", o outro que se acha "todo bom", o nervoso que é "seguro", o "brutus" que acredita ser "sócrates". E nem vou falar do "sério", do "consciência" ou do "honrado"...

E como eles gostam de se ver na "caixinha mágica"...

O óleo é de Carrie Graber.

sábado, junho 07, 2014

Escrever um Romance sem uma História de Amor


Sei que é uma raridade escrever um romance sem ter uma história de amor metida lá dentro.

Eu tenho esse desejo há bastante tempo, construir uma história com pessoas, mas sem que seja necessário inventar "acasalamentos", e claro, todas as tramóias que normalmente formam quase círculos.

Claro que um romance sem uma história de amor não é comercial... mas que se lixe o comércio.

O óleo é de Codruta Cernea.

quinta-feira, junho 05, 2014

Um Último Olhar


Disseste-me que a última memória que tinhas da casa grande da aldeia era a janela da cozinha, de onde podias ver os animais que andavam à solta no pátio, mas também os moinhos de vento, que ainda rodavam e transformavam o trigo e o milho em farinha.

Sorri-te. Eu que até gosto de janelas, tinha a memória presa ao exterior, às fazendas do avô.

A nossa diferença é que tu visitavas a casa grande durante todo o ano e eu era sobretudo nas férias grandes que ficava na casa dos avós. Era Verão e eu queria era correr e saltar pelos campos, tomar banho no rio, e claro, fazer as patifarias que todos os putos fazem, visitando os pomares alheios (quase sempre sem precisão, apenas para cumprir a "má acção do dia"...

O óleo é de Alex Russel Flint.

terça-feira, junho 03, 2014

A Vida e o Cinema, o Cinema e a Vida


Não sei se o cinema foi criado para nos reinventarmos, ou ainda para funcionar como um "espelho" das nossas vidas (embora muitas vezes seja mais um daqueles espelhos que existiam na Feira Popular, que nos encolhia e esticada, para todos os lados).

Sei sim que ele imita as nossas vidas, da mesma maneira que também acabamos por imitar as personagens que gostamos, na pose, no vestir, no andar, no falar...

Claro que não estou a falar do "cinema-anedota" do António Silva e Vasco Santana, nem do quase "poético-teatral" de Manoel de Oliveira.

Talvez fale de um cinema português que não existe, mas que Fernando Lopes, António Pedro Vasconcelos ou Fonseca e Costa, poderiam ter feito escola, se os nossos filmes fossem "bem amados" pelos portugueses...

domingo, junho 01, 2014

Esta Europa não é Nossa


Provavelmente, há boa maneira portuguesa (é preciso haver sempre algo que alimente as "novelas" na comunicação social), daqui a um mês ainda os comentadores televisivos andam a inventar teorias sobre o novo recorde abstencionista em eleições, sem focarem o aspecto mais importante: esta Europa não é nossa (nem dos países que eles chamam mediterrâneos...).

Uma boa parte de nós sabe que esta Europa, falsamente unida, não tem nada para nos dar. Conseguiu destruir a nossa economia (ainda que arcaica mas relativamente equilibrada), assente na agricultura, nas pescas, na indústria e no comércio, para nos transformar num país de serviços, completamente dependente do exterior.

Até nos conseguiu condicionar naquilo que melhor produzíamos (leite, carne, peixe, etc), impondo quotas, que obrigaram muitos portugueses a mudarem de vida...

Mais ou menos cultos, a maioria dos portugueses sabe que esta Europa só foi boa para os empresários e os políticos que se aproveitaram das benesses e dos dinheiros europeus (muitas vezes de forma fraudulenta, mas sem sofrerem qualquer remoque, por termos a justiça que temos...).

Para o país foi o que se sabe e se vê, todos os dias: cada vez há mais gente a viver com dificuldades.

É por isso perfeitamente natural que a maioria dos portugueses não vá votar para eleger deputados europeus (ainda por cima sabendo dos ordenados, das suas regalias e da sua "não existência"...). 

Não é preciso ser muito inteligente para perceber que a loura alemã manda mais que qualquer parlamento europeu...

O óleo é de Heiner Atmeppen.