quinta-feira, julho 16, 2009

O Mar ao Largo

Viver no Litoral, a poucos quilómetros do mar, tem as suas vantagens.

A maior delas é aproveitar o Mar muito mais que uma quinzena ou um mês. Na adolescência fazia mais de três meses de praia. Começava em Junho, quando se armavam as primeiras barracas de pano branco na Foz do Arelho e ficava até Setembro, quando desapareciam as últimas barracas...
Nem mesmo nos dias de nevoeiro descansávamos, havia sempre uma bola a rolar na areia e duas equipas preparadas para uma futebolada de praia, no areal que era quase só nosso...
Nesses tempos era como se o Algarve não existisse. E como eu gostava dos banhos de água fria no meu Mar, de ondas a sério e voz "grossa"...

O "Largo do Chafariz de Dentro" é de António Silva Lino.

terça-feira, julho 14, 2009

Folhear o Tempo

Estava a folhear um álbum sobre os 150 anos do "Diário de Notícias" quando descobri esta fotografia.

Ao ver esta senhora de cabelo branco na manifestação, lembrei-me de uma conversa que surgiu no domingo passado, graças à diferença de idades, de vinte anos entre duas irmãs, com a mãe. Como a senhora ainda está com óptimo aspecto e a filha mais nova se aproxima dos quarenta, tentei fazer contas e pensei que a senhora deveria ter sido mãe pela primeira vez bastante jovem, como era comum, nesses tempos...
Mas não, contou-me que foi mãe já com dezoito anos. Enquanto falávamos na diferença de idades das filhas ela desabafou, «fora os que ficaram pelo caminho», sem esconder alguma mágoa, acrescentando, «mas naquele tempo era assim». E era mesmo...
Estou a falar de uma senhora com aproximadamente oitenta anos.
Há muitas mulheres da sua geração e anteriores que fizeram mais de uma dezena de abortos, num tempo em que não existia a pilula nem outros contraceptivos, como existem nos nossos dias. E os homens, claro, sempre foram renitentes no uso do preservativo, pelo menos os das gerações mais maduras...
E pensar que se demorou tanto tempo a aprovar uma lei que protegesse mais a mulher, pelo menos dos "vãos de escada" clandestinos, que além de serem uma autêntica exploração monetária, funcionavam quase sempre em condições que deixavam muito a desejar...

segunda-feira, julho 13, 2009

A Guerra e os Argumentos Desnecessários

A habitual convivência do nosso país com crises e dificuldades, sempre um foi campo aberto a muitas especulações.

Os defensores das "batalhas campais", gostam de repisar a nossa "paz podre". Culpam quase sempre a não participação portuguesa na Segunda Guerra Mundial, e até, o quase nulo derramamento de sangue na Revolução de Abril, como os culpados desta quase passividade, com que encaramos o futuro, neste quase "mar sem ondas", apesar da proximidade do Atlântico.
Não penso assim. Acho que se tivéssemos participado nessa Guerra e se têm havido confrontos mortais na nossa caminhada para a Liberdade, existia sim mais ódio entranhado nos nossos corações, menos palavras e provavelmente ainda mais passividade, e da depressiva.
Não acredito que as guerras mudem o carácter dos povos. Deixam sim mais sombras em redor dos olhos e do coração...
Eu sou daqueles que não louvo o Salazar por nada, nem mesmo por não termos entrado na Segunda Guerra, muito menos os bispos das orações, do Cristo Rei e da Senhora de Fátima.
O nosso fado só mudará quando se esbater a chamada "pobreza de espírito", que tanto serve para os Dias Loureiros, capazes de enriquecer de um dia para o outro, de forma completamente abusiva e desonesta, como para os trabalhadores capazes de aceitar humilhações atrás de humilhações, sem se unirem e revoltar, sempre à espera de uma qualquer ajuda divina. Era bom que de vez enquanto questionassem: «E se Deus não existe? E se nós estamos entregues a nós próprios?»
Mais uma conversa de café a fazer-me estender o lençol...
A fotografia é do inesquecível Robert Doisneau...

sexta-feira, julho 10, 2009

O Homem das Mil e Uma Histórias

Uma das coisas que me fazem sentir afortunado, é ter alguns amigos com quem dá gosto falar, sentindo que as nossas conversas nunca se esgotam. É sempre o relógio a ditar a despedida...

Normalmente falamos de tudo e de mais alguma coisa. Inclusive das nossas vidinhas.
Gostei da conversa de hoje ao fim da tarde, porque nunca um amigo comunista me tinha explicado tão bem o porquê de não ser filiado no Partido. E se ele é comunista, até os outros que têm cartão o tratam por Camarada, com cê grande...
Explicou-me que sempre gostou da solidariedade e do espírito de entreajuda que existe no partido, mas as reuniões, aquele "fado hilário" cheio de lenga-lengas e de cassetes, próprias de quem é incapaz de pensar pela sua cabeça (são palavras dele...), fizeram dele o comunista mais livre do mundo, sem cartões e sem obrigações.
O que me ri com alguns exemplos que apareceram à mesa da esplanada. E o que fiquei sério, com algumas histórias de pessoas simples, que amam incondicionalmente o Partido, pelo que ele representa, sem se preocuparem com quem manda ou com quem "chupa na teta" (outra expressão dele...).
Não conheço ninguém como este Homem, completamente despojado de bens materiais, para mal dos pecados da família, que não lhe perdoam esta fraqueza, de ser solidário com quem precisa, sem nunca se preocupar se é cigano, romeno, preto ou amarelo.

quarta-feira, julho 08, 2009

Passaporte

Há livros que compramos e lemos por curiosidade e pela polémica que despertam por ai...
Acho que foi por isso que li o "Bilhete de Identidade" de Maria Filomena Mónica.
E gostei muito do que li, da forma simples e autêntica que a autora descreveu uma boa parte da sua vida. Aparentemente a sua história não tem nada de especial, mas quando se escreve bem, as coisas vulgares ganham brilhos e cheiros.
E também não o achei nada polémico. É sim uma história de vida, de alguém que não quis pintar o cinzento de cor de rosa, mesmo que isso tenha irritado parte da família e alguns amigos que aparecem por lá.
Foi por isso que comprei o "Passaporte", o seu livro de viagens. Antes de ler já tinha a sensação de que ia gostar. E estou a gostar. Porque está lá o mesmo estilo, simples e autêntico, de uma mulher livre, capaz de escrever sobre tudo, sem ter qualquer problema em falar do que não gosta, porque o mundo não é apenas a esquina da felicidade, que encontramos em tantos livros...

terça-feira, julho 07, 2009

Modernices

Sempre que me cruzo com algumas pessoas nas ruas, verifico que elas estão a circular e a conversar ao telemóvel. Limitam-se a acenar...

Faz-me confusão. Questiono-me sempre, como era a vida desta gente antes de aparecerem os telemóveis?

sábado, julho 04, 2009

Há Olhares que Não Enganam

Raramente falo de desporto, e ainda menos de futebol.

Não é uma coisa que explique com muita lógica. Provavelmente está ligada ao facto de ter começado as funções de jornalista no mundo desportivo, no "Record", de ano após ano, começar a perceber os "jogos" que se disputavam fora das quatro linhas, e ser forçado a perder a inocência de simples adepto...
Isso não fez com que deixasse de gostar do Benfica, embora a distanciação clubística aumentasse (embora nunca fosse muito forte, não me lembro de ter um cachecol ou camisola do Benfica...), ano após ano.
Desta vez abro uma excepção para falar das eleições do Benfica, dos "ratos" que tentaram chegar ao poder (na secretaria, utilizando a nossa justiça, que se presta a tudo, como todos nós sabemos...).
Mesmo sem achar Luís Filipe Vieira o presidente ideal para o Benfica (está longe disso...), fiquei bastante satisfeito com a resposta dos sócios aos "brunos", "monizes" e "veigas", que devem ter percebido que não basta aparecer nas televisões e jornais para se ser presidente do Benfica...
E espero que o Associativismo (único lugar onde se realizavam eleições democráticas nos 48 anos de ditadura) continue independente dos poderes económicos, judiciais e políticos, apesar da apetência da marca Benfica, especialmente agora que se aproxima o fim dos contratos televisivos...
Foi um grande GOOOLOO colectivo, este marcado pelos sócios. Claro que os "ratos" não vão desistir...

sexta-feira, julho 03, 2009

As Virgens Ofendidas do Parlamento

Penso que esta legislatura parlamentar é que a deixa menos saudades.

Esteve recheada de gente mal preparada e informada (principalmente do PSD, de quem se esperava o comando da oposição, mas a maior parte das vezes andou a reboque do BE e do CDS...), com poucos conhecimentos técnicos, que permitiram a Sócrates passear pelo Parlamento durante mais de três anos.
A tábua de salvação dos partidos da oposição foi a "crise", especialmente do partido da Manuela, do Santana, do Jardim, do Pacheco e do Rangel.
É por isso que entendo que as "virgens" do costume, tenham ficado ofendidas com o gesto de Pinho (que juntamente com Lino, fez a dupla mais engraçada e vira-latas do governo), embora não tenha percebido bem o seu sentido. Penso que o ministro ameaçou investir, contra as cores vermelhas do PCP (CDU é só para as eleições...), contra o Bernardino. Se ele de facto quisesse chamar cabrão a alguém bastava fazer o gesto com uma mão, que todos conhecemos...
E talvez o Pinho quisesse mesmo ir embora e tivesse aproveitado aquela oportunidade de ouro, para sair em glória nos "mentideros" da política mais musculada, em antítese com as ditas "virgens ofendidas" do costume, que depois dos espectáculos deprimentes que nos oferecem, vão para os copos uns com os outros, prontos para tudo, até para vestir saias travadas e colocar cabeleiras multicolores...
Podia colocar algo do Bordalo Pinheiro, mas preferi o surrealismo de Magritte...

quarta-feira, julho 01, 2009

Os Surrealistas


Ontem deambulei por Alfama, depois de não ter sido possível visitar o centro de documentação do Museu do Fado.

Ao passar por um edifício antigo da Junta de Freguesia da Sé, descobri uma exposição, "Os Surrealistas, Ciclo de Celeberação dos 60 Anos da 1ª Exposição do Anti-Grupo Surrealistas Português".
Entrei e adorei...
A velha casa de habitação estava toda preenchida por arte, nem a casa de banho e a cozinha escaparam...
Descobri também que hoje é apresentado no CCB, Auditório do Museu Colecção Berardo, "Prosseguimos, cegos pela intensidade da luz", o livro-objecto de Cruzeiro Seixas.