domingo, setembro 30, 2007

Objectos Quase de Museu (I)


Os velhos tanques de lavar roupa de cimento já não se encontram aqui e ali, como outrora.
As máquinas de lavar venceram a batalha da roupa limpa, com vantagens para todos nós.
Talvez estes objectos, desconhecidos pelos nossos filhos, tenham espaço em algum museu, quase natural...

O bonito óleo de Manuel Amado, "Bom Dia Lisboa", homenageia este objecto e a Lisboa dos bairros populares...

sábado, setembro 29, 2007

Amália de "Lux"


O suplemento de economia do "Expresso" de 22 de Setembro fez uma reportagem curiosa sobre "doze marcas portuguesas que o tempo não apaga".
A escolha não foi má, mas podiam ter escolhido outras, também portuguesas, simpáticas e esquecidas, porque o tempo não perdoa...
Até podiam escolher marcas internacionais, como a "Lux", cujos sabonetes deram banho a tantas beldades do mundo inteiro.
Sabiam que no nosso país até a nossa Amália Rodrigues, ajudou a vender sabonetes?...

quinta-feira, setembro 27, 2007

O Vulcão dos Capelinhos


Há cinquenta anos a Ilha açoreana do Fayal foi abalada pela erupção de um Vulcão submarino na Ponta dos Capelinhos.
Pelas oito horas da manhã os faroleiros desta ponta da ilha, foram surpreendidos pelo fervilhar da água, a cerca de um quilómetro. Entre os dias 16 a 27 de Setembro o Fayal tinha sido sacudido por mais de 200 abalos sísmicos, de baixa intensidade, um indicador de que algo de estranho se estava a passar nas profundezas da Ilha...
Depois surgiram quatro chaminés submarinas, de onde saiu vapor, cinza e gases cinzentos, no meio de várias explosões assustadoras, que voltaram a fazer tremer a Ilha...
Estas alterações oceânicas fizeram com que surgisse uma nova Ilha, baptizada pelos locais, como a Ilha do Espírito Santo.
Na noite de 16 de Dezembro surgiram os primeiros repuxos de lava incandescente, que inicialmente escorreu para norte, para o mar.
Desde o meio de Setembro, os açoreanos não tiveram um dia de descanso, durante mais de um ano. Os que puderam, partiram para longe, alguns para não mais voltarem...
A actividade sísmica só acalmou na tarde de 24 de Outubro de 1958...
NOTA: A RTP vai transmitir logo à noite uma reportagem sobre esta efeméride, que acredito ser um grande documento histórico, a não perder.

terça-feira, setembro 25, 2007

O Carteiro de Pablo Neruda...


Era para falar ontem do filme "O Carteiro de Pablo Neruda", transmitido na RTP1, no domingo, mas o tempo só hoje é que me deu algumas tréguas, e cá estou eu...
O filme em si, não é uma obra prima. Mas as interpretações de Philippe Noiret, e principalmente, de Massimo Troisi, o poeta-carteiro de Pablo Neruda e pai do pequeno Pablito, são extraordinárias...
O mais curioso (para não lhe chamar trágico...) em toda a história deste "carteiro", é a sua morte no filme, durante uma manifestação comunista, sem ver o seu filho crescer, e no mundo real, de ataque cardíaco, sem ter tido a possibilidade de saborear a sua nomeação para o óscar de melhor actor...

quinta-feira, setembro 20, 2007

O Meu Livro da Primeira Classe


No início do ano lectivo fico atento à algazarra que se ouve na proximidade das escolas para conferir se ainda é o mesmo que se ouvia na minha aldeia, quando havia crianças e a escola abria, pontualmente, todos os anos.
Os livros e o material escolar eram então mais escassos, o que me leva a cobiçar as volumosas mochilas, recheadas de livros, de cadernos e de auxiliares pedagógicos que também dei às minhas filhas e que agora vou espreitando nas prateleiras das lojas, com enorme vontade de comprar.
No meu tempo, havia o livro único para cada uma das classes obrigatórias e, para além do livro, tínhamos uma lousa, um ponteiro, um giz, uma pena, um lápis, às vezes meia dúzia de cores, um caderno de linhas, que na primeira classe era de duas, para que as letras saíssem alinhadas e da mesma altura. E uma sacola modesta de serapilheira que transportávamos a tiracolo para ficarmos com as duas mãos livres para correr, para brincar, para lutar. Tudo com parcimónia como era norma, nesse tempo do livro único!
Desde então, guardei na memória o meu Livro da Primeira Classe e procurei-o durante anos, para lhe voltar a encontrar o cheiro, as cores, o tamanho e o toque.
Encontrei-o, finalmente, não uma reprodução qualquer, mas o próprio, o verdadeiro, ele mesmo, já usado, com algumas folhas soltas, mas completo. Nunca mais o vou perder!
Tinham passado mais de cinquenta anos, mas o cheiro ainda lá estava, as figuras de cada página eram-me familiares e ainda sabia de cor grande parte das lições.
Desde então guardo-o com usura e desfolho-o de longe em longe com todo o cuidado, não vá ele desfazer-se, e quem quiser tê-lo nas mãos tem que me dar garantias de que sabe manusear livros preciosos, ou que está disposto a aprender.
Por estes dias voltarei a abrir o meu livro da primeira classe, com a algazarra de crianças em fundo, e não deixarei de conferir se alguma das primeiras letras se apagou ou se alguma figura se escondeu, sem me dizerem nada.

Joaquim Nascimento

segunda-feira, setembro 17, 2007

Outro Largo da Memória...


Eu sabia que o nome deste blogue não era original.
É por isso que faço, com todo o gosto, referência a um outro "Largo da Memória", o livro de contos de Homero Serpa.
Homero Serpa é um jornalista desportivo que fez parte do mais célebre quinteto do jornalismo desportivo, com quem aprendi a gostar e a perceber de futebol, de desporto e de tantas outras coisas...
Estou a falar de Carlos Pinhão, Alfredo Farinha, Carlos Miranda, Vitor Santos e Homero Serpa.
Conheci os três primeiros, especialmente o Carlos Pinhão, uma das minhas grandes referências no jornalismo.
Homero Serpa, não conheço pessoalmente, embora me seja bastante familiar, nas suas crónicas e nas suas histórias...

sexta-feira, setembro 14, 2007

A Bela Natália


Ontem também se comemorou o aniversário do nascimento de Natália Correia (1923 - 1993).

É por isso que vos ofereço o seu "Auto-Retrato" (in Poemas, 1955):

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

quinta-feira, setembro 13, 2007

O Inesquecível Aquilino Ribeiro


Aquilino Ribeiro (1885 - 1963) nasceu há exactamente 122 anos, em Tabosa do Carregal, Sernancelhe.
Foi um dos grandes responsáveis, senão mesmo o principal, pelo meu regresso ao mundo dos livros, como leitor, através do seu "Malhadinhas", um livro ideal para quem quer recomeçar a sentir o gosto pela leitura, pela sua graça e simplicidade...
A partir desse momento li quase toda a sua obra literária, bem mais exigente e segura, e percebi a razão de ter sido um forte candidato ao "Prémio Nobel da Literatura", apesar de pertencer a um país ainda mais pequeno e encolhido, que o dos nossos dias, apesar de brincar aos "Impérios".

terça-feira, setembro 11, 2007

Reflexão, e Porque Não, Inflexão?


Tenho pena que a avó do senhor Bush nunca lhe tenha dito que: «com vinagre não se apanham moscas.»
Provavelmente tinham-se poupado muitas mortes (especialmente de soldados americanos e de nativos do Iraque), e o outro senhor, Bin Laden, talvez já não andasse por aí à solta, a comunicar de longe a longe, no interior de uns videos amadores esquisitos...
Claro que o 11 de Setembro é indesculpável, mas um pouco mais de inteligência e menos ambição (malditos poços de petróleo iraquianos...), talvez tornassem o Médio Oriente e o Mundo em que vivemos, menos perigoso e mais respirável, nestes dias que correm...

O óleo que ilustra estas palavras é "O Sinal da Primavera", de Manuel Cargaleiro, tão necessário nestes dias que correm...

domingo, setembro 09, 2007

Carreira da Meda - a Própria!


A personagem principal desta fotografia é a carreira da Meda, o veículo que se vê em segundo plano, com capacidade para transportar uma dúzia de pessoas, a carga pesada no compartimento J e a bagagem no tejadilho a que se acedia por uma escada exterior, onde algumas vezes me dependurei.
Claro que a carreira da Meda, ou a carreira da Viúva, não era a preto e branco e nas suas cores bem combinadas predominava o verde claro que alguns castanhos e outros tantos amarelos sublinhavam.
São visíveis, na retaguarda, as três primeiras letras do nome da firma, “VIUVA CARNEIRO E FILHOS, LDª” e quem me dera poder virá-la de frente para mostrar os cromados do radiador, o distintivo da marca e as tabuletas amovíveis que indicavam o seu destino e o assinalavam como transporte colectivo de passageiros.
O autor desta fotografia foi o Alfredo que, em meados dos anos quarenta, voltou do Brasil com sotaque e uma “kodak” com que fixou para a posteridade esta e outras cenas que procuro recuperar. Eu sou uma das crianças do grupo e a minha mãe diria que sou o mais lindo de todos, mas ela não deixaria de aceitar que o mesmo dissessem dos seus, as outras mães.
Suspeito que nesse dia ninguém chegou, ninguém partiu, só subimos até à paragem para ver passar a carreira, imitando a gente da Vila que todos os dias interrompia o trabalho para a ver chagar à Avenida, assim iludindo o desejo de partir.
Ainda que quiséssemos embarcar não caberíamos todos, mas dou-me conta do desacerto desta palavra com sabor a cais, aqui tão longe do mar!
Pela roupa ligeira que vestíamos seria Verão, talvez domingo, pois tanta gente desocupada àquela hora, só mesmo num domingo o que pode ser confirmado pela roupa que, embora modesta, não era roupa de todos os dias.
Que eram dezasseis horas e trinta minutos da tarde é mais que certo, pois era esta a hora a que a Carreira da Viúva chegava pontualmente aos Pereiros, depois de ter vencido a estrada íngreme, aberta ao sabor das curvas de nível, desde o Douro, lá ao fundo, no Pinhão.
Ao longo da vida, várias vezes revisitei esta fotografia para avivar a memória que dela guardo e da sua circunstância. Obrigado, minha mãe, pelo cuidado com que a guardou durante mais de sessenta anos, para que eu a possa partilhar!
Joaquim Nascimento